Recomendamos este tópico para os leitores do nível de detalhamento avançado que desejam ter uma visão ampla dos agrupamentos dos “Rs” da sustentabilidade
Apresentamos aqui exemplos de agrupamentos dos “Rs” de sustentabilidade. Alguns agrupamentos podem ser considerados frameworks mais estruturados, cuja “ordem” dos “Rs” possui um significado que pode apoiar a sua seleção.
Normalmente, um framework traz uma categorização das estratégias de sustentabilidade. Novos frameworks são constantemente desenvolvidos para sistematizar a aplicação de estratégias e práticas de sustentabilidade e economia circular.
Na seção sobre economia circular mostramos:
- por que categorizar as estratégias de economia circular? e
- frameworks que apresentam estratégias que vão além dos Rs.
No início eram 3Rs
No início, usava-se o termo 3Rs para conotar “reduzir, reusar e reciclar”. A ênfase maior era na reciclagem, o que ainda é realidade em muitos lugares. No entanto, os custos e a energia necessários para se reciclar provocaram um aumento do uso das estratégias de reduzir e reusar (Leslie et al., 2021). Ainda hoje essas são as estratégias mais citadas.
Evoluíram para 5Rs
Uma proposta definiu 5Rs: rejeitar, reduzir, reusar, redirecionar (repurpose) e reciclar. Esses 5 Rs foram representados como um funil, como ilustra a próxima figura.
Figura 934: representação dos 5Rs da sustentabilidade na forma de funil
Algumas propostas de 6Rs e várias de 7Rs
Alguns autores citam os 6Rs da sustentabilidade. Acima do rejeitar, da figura anterior, foi inserido o repensar e no lugar do redirecionar, foi inserido o reparar. Então, os 6Rs da sustentabilidade ficaram: repensar, rejeitar, reduzir, reusar, reparar e reciclar.
O quadro abaixo mostra uma amostra de propostas de 7Rs.
Quadro 935: alguns exemplos de 7Rs da sustentabilidade
A proposta 1 pode ser acessada nesses links: Proposta Galrão e Leonardo Borges
A proposta 2 pode ser acessada nesse link: IDEC
A proposta 3 pode ser acessada nesse link: MIPMED
A proposta 4 pode ser acessada nesse link: Aeromatico
Esses são somente alguns exemplos para ilustrar a variedade de definições dos 7Rs. A maioria das referências apresentadas é relacionada com atitudes pessoais e não estratégias empresariais.
Na área de embalagens, Brodnjak et al. (2022) partiram de uma visão de tratamento dos resíduos ilustrados na próxima figura (6Rs) e chegaram uma proposta dos 7Rs, ilustradas na figura subsequente.
Figura 936: hierarquia dos resíduos da indústria de embalagens
Fonte: adaptado de Brodnjak et al. (2022)
Figura 937: o framework dos 7 Rs de embalagens sustentáveis
Fonte: adaptado de Brodnjak et al. (2022)
A figura anterior é equivalente a proposta 4 do quadro que apresenta alguns exemplos de estratégias, porém relacionadas com embalagens. O reintegrar daquele quadro é o rot, que normalmente abrange a compostagem de algum material orgânico.
- Repensar o design dos produtos e das embalagens para diminuir o impacto;
- Rejeitar embalagens exageradas e o uso de plástico;
- Reusar embalagens;
- Reduzir as embalagens modificando características do produto;
- Redirecionar combina o reusar e o reciclar com base no projeto de embalagens que podem ser usadas em outros aplicações;
- Reciclar os materiais das embalagens, graças a um design apropriado;
- Reintegrar (rot) Utilizar material biodegradável nas embalagens ou orgânicos para que eles possam ser decompostos e seus nutrientes reaproveitados
Propostas de 8 a 10Rs
Também existe a proposta dos 8Rs, que introduz ainda: “reciclar corretamente”, “remover” (o lixo espalhado) e o “repassar (rally)”,
Uma outra proposta dos 8Rs consiste de: refletir, reduzir, reutilizar (reusar), reciclar, respeitar, reparar, responsabilizar-se, repassar.
A proposta de 9Rs introduziu as estratégias de recondicionar, remanufaturar e recuperar energia, resultando em: rejeitar, reduzir, reusar, reparar, recondicionar, remanufaturar, redirecionar (repurpose), reciclar e recuperar energia (van Buren et al., 2016).
Existem propostas de 10 Rs: rejeitar, repensar, reduzir, reusar, reparar, reciclar, reintegrar, respeitar, responsabilizar-se, repassar. Veja que ficaram de fora desta proposta, em comparação com a anterior as seguintes estratégias: recondicionar, remanufaturar, redirecionar (repurpose) e recuperar energia.
Estudo e framework de Reike, Vermeulen & Witjes (2018)
Reike, Vermeulen & Witjes (2018) realizaram um levantamento de 69 “Rs” da sustentabilidade (estratégias), que foram extraídas das seguintes disciplinas de conhecimento:
- gestão de resíduos e ciências ambientais
- logística reversa e gestão da cadeia de suprimentos com looping-fechado
- design de produtos e produção mais limpa
- ecologia industrial
- economia circular (depois de 2010).
Eles constataram que foram empregados 38 diferentes termos iniciados por “R”: re-assembly, recapture, reconditioning, recollect, recover, recreate, rectify, recycle, redesign, redistribute, reduce, re-envision, refit, refurbish, refuse, remarket, remanufacture, renovate, repair, replacement, reprocess, reproduce, repurpose, resale, resell, re-service, restoration, resynthesize, rethink, retrieve, retrofit, retrograde, return, reuse, reutilise, revenue, reverse and revitalize. Essas estratégias foram estruturadas em grupos de 3Rs a 10 Rs. E surpreendentemente, para os autores, a tipologia de “3Rs” é a mais utilizada na literatura de economia circular (depois de 2010) com diversas variações, tais como:
- reduzir, reutilizar e reciclar (a mais utilizada);
- reutilizar, remanufaturar e reciclar;
- reduzir, recuperar e reutilizar;
- reutilizar, reciclar e retornar;
- reciclar, reutilizar e receita (Sic!);
- reutilizar, recuperar e reciclar.
Segundo os autores, essa falta de consenso sobre quais “Rs” fazem parte de cada grupo e qual a sua hierarquia (quem vem primeiro) se repete nos outros agrupamentos do ‘Rs”.
Neste estudo, as estratégias de economia circular foram classificadas em duas fases do ciclo de vida de produtos:
- conceito e design do produto;
- produção e uso.
A síntese das estratégia contém a seguinte hierarquia:
- R0: rejeitar ou recusar (refuse) – tanto do ponto de vista do consumidor, como do produtor;
- R1: reduzir;
- R2: reutilizar ou revender;
- R3: reparar;
- R4: recondicionar;
- R5: remanufaturar;
- R6: repropor ou redirecionar;
- R7: reciclar materiais;
- R8: recuperar (energia);
- R9: reminerar.
Os autores dividiram essas 10 estratégias em três tipos de loopings:
- looping curto, envolve atividades próximas dos clientes e outros agentes que podem se envolver para estender a vida dos produtos. Este looping abrange as estratégias (R0-R): rejeitar ou recusar; reduzir; reutilizar ou revender; e reparar.
- looping médio, atividades de negócios com envolvimento indireto dos clientes, que comprariam produtos recondicionados etc. Este looping abrange as estratégias (R4-R6): recondicionar; remanufaturar; e repropor ou redirecionar.
- looping longo, recupera materiais depois de muito tempo de uso, que podem ser utilizados como insumos nas estratégias dos outros loopings mais curtos. Este looping abrange as estratégias (R7-R9): reciclar materiais; recuperar (energia); e reminerar.
O estudo de Reike, Vermeulen & Witjes (2018) possuía 1256 citações em 3/7/2023 no Google Scholar. Consulte a publicação original para conhecer uma descrição detalhada dessas estratégias e outros resultados deste estudo que as relaciona com a servitização e outras práticas de economia circular.
Relatório e framework de Potting et al. (2017)
Potting et al. (2017) publicaram um relatório para a agência de proteção ambiental dos Países Baixos e utilizaram a categorização das estratégias de economia circular proposta por Rli (2015).
O relatório de Potting et al. (2017) possuía 951 citações em 3/7/2023 no Google Scholar
Eles definiram três categorias e suas características, conforme ilustrado na próxima figura.
Figura 938: estratégias de economia circular dentro de uma cadeia produto em ordem de prioridade (a mais prioritária está no nível superior da figura).
Adaptado de Potting et al. (2017)
Uma contribuição deste framework são as diretrizes que apoiam a decisão de qual estratégia selecionar:
- Quanto mais elevado o nível de circularidade, menos recursos naturais são necessários.
- Para se conseguir uma maior eficácia na reciclagem e recuperação (da energia com a incineração dos materiais), devemos realizar inovações tecnológicas.
- Conforme adotamos as estratégias de economia circular de maior nível de prioridade na figura anterior, ou seja, estratégias de maior circularidade, temos de empregar sucessivamente: inovações no design dos produtos, no modelo de negócio até realizar mudanças sócio-institucionais.
Na verdade, esse framework mostra uma ordem de prioridade para seleção de uma estratégia:
- R0: rejeitar ou recusar (refuse);
- R1: repensar;
- R2: reduzir;
- R3: reutilizar ou redistribuir;
- R4: reparar;
- R5: recondicionar, reformar;
- R6: remanufaturar;
- R7: repropor ou redirecionar;
- R8: reciclar;
- R9: recuperar.
Este framework foi adotado como ponto de partida para a criação do Circular Strategies Scanner, que representa uma evolução das categorias de estratégias de sustentabilidade com foco na economia circular, que não se limita a apresentar estratégias, cuja denominação inicia com a letra “R”.
Frameworks de estratégias de economia circular
Conforme a economia circular evoluiu no meio empresarial e diversas agências aumentaram o fomento de pesquisas nessa área, surgiram diversas propostas de estruturação dessas estratégias, como a do Potting et al. (2017), apresentada no tópico anterior.
No início, esses autores estruturam os “Rs” da sustentabilidade como estratégias de economia circular. Porém, com a maturidade dos trabalhos nessa área, alguns trabalhos complementaram os “Rs” com estratégias, cuja denominação não se inicia com “R” e desenvolveram categorias mais intuitivas para apoiar a seleção de estratégias de economia circular, como o Circular Strategies Scanner, que já citamos nesta seção.
Alguns trabalhos desenvolveram categorias (ou framework de classificação) de estratégias de economia circular voltados para segmentos de mercado e tecnologia mais específicos. Isso faz sentido, pois conforme uma área de conhecimento evoluiu, percebe-se que não existe o “one-size-fits-all” e propostas mais específicas facilitam a adoção para determinados segmentos.
Veja outras categorias e frameworks no tópico “Estratégias da economia circular” da seção sobre economia circular.
Conhecer as estratégias “mais genéricas” (como a dos “Rs” da sustentabilidade) podem trazer novos insights para quem deseja definir estratégias e práticas de sustentabilidade / economia circular para a sua empresa.